[por Daniel Blume, advogado]
Era final dos anos 90, quando pisei naquele tapete persa da entrada. Minha primeira vez. Havia um cheiro de madeira no escritório do advogado Pedro Leonel Pinto de Carvalho. Meus sonhos, então, usavam toga. Jamais pensei que, de estagiário indireto, eu me tornaria seu sócio. Também nunca imaginei que acabaria amigo íntimo daquele intenso profissional. Amigos até o término da sua longevidade, aos 82 anos de idade. Óculos grossos camuflavam suas sobrancelhas despenteadas. Cabelos lisos grisalhos, escovados para longe da testa. Dono de largas bochechas vermelhas, era um tanto gordo, apesar da magra juventude. Homem repleto de vícios e virtudes — como nós — Pedro Leonel era filho da antiga cidade maranhense de Viana. Mas poderia ter nascido na Viena das músicas que assobiava, bem assim dos livros que citava. Era novembro de 1948, quando a barca em que estava Pedro atracou na antiga Rampa Campos Melo. Chovia aos tubos em São Luís. Um maleiro estava atento à sua espera. O homem usava Boina e Colete n. 17. Logo o número passou a ser o predileto de Leonel. De lá, o jovem partiu para a Rua Cândido Ribeiro, n. 106, onde passou a morar com a avó. Seu objetivo era estudar na capital. Seu desígnio, tornar-se um dos maiores advogados da história do seu Estado. Com seis décadas de profissão, PLPC – como conhecido – era um dos mais duradouros advogados militantes do Maranhão. Chegou a completar mais de 60 (sessenta) anos de ininterrupto exercício da Advocacia. Ostentava a OAB-MA número 417 com o peso de sua inconfundível rubrica elíptica. Foi Conselheiro Federal da OAB, Presidente do Instituto dos Advogados do Maranhão, Procurador-Geral do Estado do Maranhão, Procurador-Geral do Município de São Luís e Professor da Universidade Federal do Maranhão. Atualmente, além de membro efetivo do IAB/Nacional, era sócio administrador do escritório que carrega seu nome, onde exercia seu mister com afinco, retidão, ética e destemor. Destacou-se como propositor de inúmeras ações populares, pro societate. Por exemplo, foi dele a primeira demanda a apontar problemas em um negócio entre Petrobrás e Astra Oil Trading para a compra de uma refinaria em Passadena, Texas (EUA). Assim, o advogado maranhense acabou se tornando peça importante na Lava Jato. Cito apenas um dos vários casos similares. Inquestionavelmente, uma referência de cidadania. Processualmente cirúrgico, para além da técnica perspicaz, era um bravo na peleja judicial. Combativo tanto nas causas grandes ou quanto nas menores, era respeitado, especialmente pelos adversários. Exerceu a Advocacia com paixão juvenil mesmo na velhice. PLPC faleceu no dia 22.07.2019, manhã de uma movimentada segunda-feira. Muito embora jamais tenha se interessado por prêmios, obteve glória. Os Céus agora contam com um combativo templário, ao lado de Deus.